O dia em que eu...

17.1.18


Senti o vento batendo firme em meu rosto, minhas pernas leves e soltas. Meu corpo estava flutuando para longe e então eu soube que aquele era o dia em que eu estava finalmente livre.

...

Não nasci para o estrelato e muito menos para o sucesso, eu era aquela que se autossabotava para não chamar tanta atenção. Professores, pais, colegas, todos diziam o quão talentosa eu era. Poderia ser o que quisesse, mas somente se sonhasse alto. Nunca havia entendido muito bem esse sentido, a fama não me trazia a felicidade e muito menos o anonimato. Eu precisava do meu palco, talvez um pequeno sem tanta iluminação e “fru-frus”. Eu estava solta em minha própria peça, onde a protagonista lutava para ser a coadjuvante que mais aparecia.

Aqueles que entravam na minha vida eram afetados e brilhavam em minha presença. Vi tantos sorrisos se formando e eu gostava de levar essa essência para todos próximos de mim. Nunca entendi o ódio e queria acabar com esse sentimento desastroso. Meu objetivo era levar um pouco de felicidade e esperança para aqueles que me cercavam, mas estava claramente estampado em minha alma que eu era muito pequena para conquistar algo de tamanha maestria.

Cresci e concretizei alguns sonhos, casei, tive uma bela carreira, dois filhos lindos. Algumas vezes me sentia completa e outras com alguns buracos a serem preenchidos. Eu era uma pessoa normal e ao mesmo tempo extraordinária! Permear entre o usual e a perfeição foi sempre uma de minhas características. Essa era a minha maldição, nem isso, nem aquilo. Perdida e satisfeita ao mesmo tempo, não sei se era pura loucura ou se todos eram assim.

E lá estava eu parada diante do mundo. Um lugar cheio de possibilidades e destinos ao qual eu estava acorrentada e livre ao mesmo tempo. Eu não aguentava mais aquele sentimento de arrependimento, “talvez se eu tivesse feito mais”, “se eu tivesse me esforçado mais...”, esse “se” essa era a minha maldição. Ser boa o bastante, mas nunca acima disso.



Então o grande dia chegou, eu estava pronta para partir... O primeiro passo foi dado, ali ouvi o ranger das correntes se movendo e o tintilar delas ao atingir o chão. Pulei... pulei o mais alto que pude! Senti o vento batendo firme em meu rosto, minhas pernas leves e soltas. Meu corpo estava flutuando para longe e então eu soube que aquele era o dia em que eu estava finalmente livre.
*Repost da blogagem coletiva de junho de 2015

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